Passaram-se sete semanas do alerta dado a respeito de uma possível hiper oferta de resinas e filmes no último trimestre deste ano. Infelizmente, o risco subiu substancialmente de acordo com as últimas atualizações.
Primeiro, quero elencar os pontos de atenção quanto ao esgotamento do ciclo de alta do consumo voltado a alimentos, bebidas e artigos farmacêuticos; itens que movimentam boa parte do mercado de embalagens rígidas ou flexíveis:
• Aumento substancial nas importações de resinas e filmes devido à euforia de continuidade;
• Entendimento tardio de que o setor passa por aquecimento;
• Sinais claros de persistência da inflação de alimentos;
• Enfraquecimento do movimento de ganho de poder de compra da população;
• Inadimplência cada vez maior da pessoa física e o fracasso do Programa Desenrola;
• Desastre no RS (evento inesperado) tende a trazer uma piora nos números.
Um exemplo claro da euforia é a quantidade importada de PP Homopolímero acumulado entre janeiro e abril deste ano. Em comparação com o ano passado, o volume chega a ser 70% maior no mesmo período. Ainda, este volume é 59% maior que o mesmo período de 2021, onde o excesso de pedidos resultantes da euforia pós-pandemia chegava em meio à disrupção da cadeia de transportes marítimos.

Agora, vamos aos fatos gerados pelos números. Além do ganho de renda ocorrido desde 2022, o consumo de bens não duráveis está sendo alavancado pela retirada de crédito a longo prazo e redução do desemprego. Em outras palavras, o brasileiro ganhou renda, empregou-se, mas não está autorizado a comprar bens que exijam parcelamento, como eletrodomésticos de maior valor agregado ou móveis.


Mesmo com tentativas do governo de amenizar o alto grau de inadimplência da pessoa física, como o programa Desenrola Brasil, o número de pessoas negativadas subiu a um novo recorde em março deste ano.

São quase 73 milhões de brasileiros adultos inadimplentes, negativados. Isto representa 44,3% da população adulta, um recorde. Infelizmente, por conta da continuidade do movimento, é uma boa notícia para o setor supermercadista e de artigos farmacêuticos e uma sinalização ruim para o varejo de bens semiduráveis e duráveis.
Todavia, a inflação de alimentos não para de subir e o ganho de renda começa a dar sinais de esgotamento. Segundo o DIEESE, a cesta básica em abril chegou a R$ 822,84. O maior valor desde a pandemia. A alta em quatro meses já ultrapassa o reajuste do salário-mínimo. O desastre do Rio Grande do Sul deve por mais pressão neste movimento. Além disso, no mercado internacional de contratos futuros, o trigo já subiu 25% desde março, o arroz 20%, o milho 17% e a soja 6%.

O relatório da Stone sobre o varejo já aponta uma queda no consumo de supermercados na ordem de 8,7% em abril comparado a março. O relatório ainda fala em “reversão de tendência”. Os sinais estão presentes para quem quiser enxergá-los.

A célebre frase “A história não se repete, mas rima”, atribuída ao escritor Mark Twain, encaixa-se perfeitamente na fase do ciclo no qual estamos vivendo. O mercado, inocente, enxerga o futuro como uma continuação do presente. Se continuarmos a ver um volume excessivo de importações nos próximos meses, e deveremos, é muito provável que um cenário de hiper oferta se desenhe nos últimos meses do ano. Assim, mesmo com demanda média, poderemos ver margens ainda mais reduzidas por conta da competitividade e a necessidade de caixa, nada bom num cenário de juros altos. Estoque alto será periloso.