Vivemos um momento interessante no cenário econômico brasileiro. Todos os dados de funcionamento da economia divulgados, num primeiro momento, são positivos. Entretanto, o mercado dá sinais de irritação. Na semana 25 (24 a 28 de junho), tivemos a divulgação dos dados de emprego. Na quinta, o Ministério do Trabalho divulgou que, em maio, tivemos a geração de quase 132 mil empregos formais. Corroborando o bom momento e em sintonia com os dados de PMI, o IBGE mostrou que o desemprego caíra a 7,1% na sexta-feira. É o menor valor desde fevereiro de 2015.
Renda Média em Alta
A renda média real do brasileiro permanece em alta. A renda média real já desconta a inflação. O valor atingiu R$ 3.181,00, 2,5% de alta no ano de 2024. Ainda segundo o IBGE, a força de trabalho ocupada em maio de 2024 chegou a 101,3 milhões de pessoas, um recorde. Além do mais, todos os setores da economia apresentam um quadro de crescimento até abril (aguardemos os dados de maio a serem divulgados no início de julho).
Sinais de Alerta no Mercado
Ao mesmo tempo, estamos assistindo um sério agravamento de sentimento por conta do mercado de que as coisas podem piorar. O dólar encerrou a semana cotado a R$ 5,5945, uma alta de 3,04% numa única semana. O real encerrou o mês de junho como a terceira pior moeda emergente em desvalorização, perdendo apenas para o peso mexicano e o peso colombiano. Concomitante aos dados de emprego, o BC divulgou as estatísticas fiscais de maio. O resultado veio pior do que o esperado pelo mercado. Para o déficit primário, o esperado era algo em torno de R$ 59,5 bi, porém o divulgado foi de R$ 63,9 bi. O resultado nominal veio ainda pior, R$ 138,3 bi contra R$ 116,5 bi aguardado pelo mercado.
Bolsa Brasileira em Queda
A bolsa brasileira, em dólares, tem um dos piores resultados no ano de 2024. De uma maneira geral, as bolsas no mundo subiram 10%. A bolsa brasileira amarga uma queda de quase 20% em dólares.
O Paradoxo do Mercado
O que está ocorrendo? Por qual motivo temos dados tão positivos no funcionamento da economia e, mesmo assim, o mercado tem reagido tão mal? A resposta é simples e é uma das primeiras lições que qualquer desenhista de cenários precisa aprender logo no começo. Bolsa, mercado de juros e câmbio não seguem PIB. Todos os dados econômicos relacionados a desempenho dos setores, de emprego e renda são considerados dados atrasados. O mercado financeiro vive de expectativas. A bolsa, hoje, espelha uma expectativa futura de resultados. Existe uma lacuna de, em média, algo entre três e seis meses entre o presente e o mercado financeiro. O mercado projeta estimativas e as corrige conforme o tempo vai passando.
Plano Econômico do Governo
O mercado entendeu que o plano do governo é insustentável no médio prazo. Se o plano de Brasília é aumentar a arrecadação para sustentar o déficit, teremos problemas graves adiante. A cada fala do presidente de que o caminho será este, o mercado reage com mais pressão. Ou o governo vem a público divulgar uma estratégia factível de controle, ou a situação pode se complicar ainda mais. Historicamente, o governo sabe que é mais prudente mostrar a intenção de entrar na linha. A areia da ampulheta está cessando, assim como a paciência.