Na última semana, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou os dados da Intenção de Consumo das Famílias (ICF) referente a julho de 2024. O índice apresentou uma ligeira queda de 0,2% em comparação com o mês anterior, ajustado sazonalmente. Embora essa variação pareça pequena, é a primeira redução desde o primeiro trimestre deste ano e evidencia sinais de desgaste no ímpeto de consumo das famílias brasileiras.
Análise dos Componentes do ICF
A análise detalhada dos componentes do ICF revela um cenário de preocupação. A Perspectiva Profissional apresentou uma queda de 1,0% em relação ao mês anterior e uma diminuição significativa de 6,6% na comparação anual. Isso indica que, apesar de uma percepção relativamente positiva sobre o emprego atual, há um pessimismo crescente em relação ao futuro do mercado de trabalho.
O Acesso ao Crédito também mostrou uma redução de 0,6% em julho, reforçando as dificuldades enfrentadas pelas famílias para equilibrar o alto endividamento com o controle da inadimplência. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), essa situação é um desafio contínuo.
Desaceleração no Emprego e Renda
Apesar de um desempenho positivo no emprego formal desde o início do ano, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a taxa de crescimento tem desacelerado desde fevereiro. O emprego formal cresceu 3,7% em 12 meses, abaixo dos 4,1% observados no mesmo período do ano passado. Esse enfraquecimento impacta diretamente o consumo, refletido na queda de 0,4% no Nível de Consumo Atual.
A Renda Atual foi um dos poucos indicadores que apresentou variação positiva (+0,2%) em julho, alcançando o maior nível desde março de 2015 (125,3 pontos). No entanto, essa melhora não foi suficiente para compensar a percepção negativa sobre o futuro do mercado de trabalho e o acesso ao crédito.
Desigualdade de Consumo por Faixa de Renda e Gênero
A análise dos dados também revela diferenças significativas entre as faixas de renda e gêneros. As famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos apresentaram uma queda de 0,4% na Perspectiva de Consumo, enquanto aquelas com renda acima de 10 salários mínimos tiveram um aumento de 0,4%. Esse contraste destaca uma recuperação mais lenta para as famílias de menor renda, que são mais vulneráveis às mudanças no mercado de trabalho e condições de crédito.
O público feminino apresentou uma queda mais acentuada na Intenção de Consumo (-0,8%) em comparação com os homens (-0,5%). As mulheres enfrentaram maiores desafios no emprego atual (-1,1% contra -0,7% para os homens) e na Perspectiva Profissional (-2,0% contra -0,4% para os homens), refletindo uma maior vulnerabilidade econômica.
Impacto Regional: Rio Grande do Sul
A crise climática no Rio Grande do Sul teve um impacto profundo na intenção de consumo do estado, que apresentou uma queda de 4,0% em julho. Todos os indicadores mostraram declínios, com destaque para o Momento para Compra de Duráveis (-8,6%) e a Perspectiva Profissional (-8,4%). Esse cenário é um reflexo das dificuldades enfrentadas pelas famílias locais para recuperar suas condições de vida após as enchentes.
Panorama
O relatório de julho de 2024 do ICF indica sinais preocupantes de desgaste no ímpeto de consumo das famílias brasileiras. A desaceleração no emprego formal, o acesso restrito ao crédito e as diferenças de impacto entre faixas de renda e gêneros sugerem um cenário econômico desafiador. A recuperação econômica, que vinha sendo sustentada pelo aumento da renda e do emprego, mostra sinais de enfraquecimento, exigindo atenção e medidas eficazes para evitar uma retração mais acentuada no consumo.
FAQ
O que é o ICF?
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é um indicador antecedente que mede o potencial de consumo das famílias brasileiras. Calculado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), ele reflete o grau de satisfação e insatisfação dos consumidores em relação ao consumo de bens e serviços.
Como é calculado o ICF?
O ICF é calculado com base em sete indicadores: emprego atual, renda atual, nível de consumo atual, perspectiva de consumo, perspectiva profissional, acesso ao crédito e momento para compra de duráveis. Os dados são coletados mensalmente de 18 mil questionários em todas as Unidades Federativas do Brasil, ajustados sazonalmente para permitir comparações consistentes.