Ao longo desta semana temos mais dados dos indícios de que o consumidor brasileiro cansou. Consumidor, como o próprio nome diz, consome. O consumo depende da renda atual e da expectativa de maior renda num futuro próximo. Há outros elementos que influenciam dentro desta expectativa. O consumidor não é tolo. Ele sabe como anda o ambiente de empregabilidade, preços de serviços e de bens de consumo.
Acompanho dois índices de confiança. O ICC da FGV-Ibre e o ICF da CNC. Índices de confiança são ótimos indicadores antecedentes e ajudam a montar o cenário econômico à frente.
Em março escrevi a respeito dos sinais de esgotamento de ganho de poder de compra da população. O aumento de renda começou em 2022 em consonância com a queda do desemprego e a redução das pressões inflacionárias. O problema está na falta de sintonia entre empresários e população.
*Por motivos ideológicos, uma parcela de empresários se recusou a entender o momento favorável para o consumo de bens não duráveis. Esta realização tardia mostra-se nos números de importações crescentes. O setor de embalagens vive uma euforia nunca vista quando se trata de importações. Em outras palavras, enquanto o consumo arrefece, os estoques ficam maiores.
Segundo o índice de Confiança do Consumidor da FGV, enquanto o índice de situação corrente permanece estabilizado, o de expectativas futuras avisa que algo não vai bem. Esta sinalização para o futuro pode ter vários motivos. Um deles, certamente, é a inflação persistente de alimentos. O cidadão não precisa ser um expert em economia para entender que há algo estranho acontecendo nos supermercados.

O ICF da CNC aponta a mesma situação. A perspectiva de consumo continua a cair desde novembro do ano passado. A diferença entre os dois índices fica na situação atual. A CNC aponta que, desde fevereiro, o nível de consumo atual está caindo.

Diferentemente da FGV, a CNC divulga os dados desagregados de seu índice, o que considero muito bom para compreender os movimentos. Dentro do ICF existe o índice de “momento para duráveis”. O índice demonstra qual o ímpeto na aquisição de bens duráveis, como móveis, automóveis ou até mesmo eletrodomésticos e eletrônicos de maior valor. O setor sofreu muito após a pandemia, todavia, tentava se recuperar com o ganho de poder de compra crescente. Desde janeiro deste ano o índice recua, mostrando que o alto endividamento e a pressão inflacionária não deve dar tréguas ao varejo deste segmento.

Por fim, é possível monitorar a euforia das importações com dados gratuitos da COMEX. Um exemplo é a importação de veículos automotores de passageiros. A COMEX aponta um crescimento no volume de importações de 47% em relação ao mesmo período do ano passado.
